sábado, 2 de abril de 2011

Conto circular

Uma guerra perdida


         Era um País,era um Povo,um Povo com um Governo.Governo mandava e desmandava.Governo tinha muito.Povo quase nada.Povo obedecia e seguia,e quando não o fazia,morria.Todos eram tristes,só Governo que não.Esse sim era feliz. O Povo  na sua maioria ,aceitava o fato de que todos estavam condenados para sempre.
         Mas até que um dia,Povo acordou.Povo já não mais aceitava aquela mísera condição,não mais aceitava tanto sofrimento e, assim, lutou contra Governo.Governo tentou se explicar,mas Povo não se convenceu.
         Povo dizia:
         - Não há pretexto que justifique nossa prisão,sendo que podemos abrir a gaiola que nos prende.
         - Não há pretexto que explique como milhões podem morrer de fome ao lado de bilhões de quilos de comida.
         - Não há também desculpa que esclareça por que vivemos no escuro,se o Sol está lá fora.
         Povo se mobilizou.Governo não cedeu.Não dava,era ruim demais pra ser verdade,tantos anos de alegrias jogados fora tão repentinamente.Tanto prestígio e pavoneios do nada excluídos, como uma folha de papel amassada na mão de um estudante vira vítima da defenestração.
         Não...era difícil demais aceitar tudo aquilo.Governo chorou mas não cedeu.Aquilo tudo era um lago de um templo,sacudido por um maremoto.Era o coelho,doce e inocente,virando predador mais temido.Era  a criança simples a brincar que abandonava seu pião e pegava em armas para matar.
         Mais uma vez Governo chorava,mas não vacilava.Suas lágrimas eram como a poça d'água,que seca  no dia seguinte.
         Povo regozijava-se.Era uma palavra que fugia do dicionário e invadia a realidade: Esperança.Sim, era a Esperança.Povo era o pássaro vendo a porta da gaiola aberta.O rato indefeso que,uma vez nas garras do gato,via o gato morrer sufocado pela matilha.O suposto pecador,depois de morrer,sentia o calor do inferno,até que ouviu o diabo pedindo perdão"houve um erro nos nossos computadores.Seu lugar é no céu." O suicida ganhava na loteria,minutos antes de se enforcar.O fiel que pedira a Deus ,todas as noites,que pudesse criar asas para voar,já desesperançoso,ia largar sua religião,quando ganhou um avião.O indigente se sentava à mesa de uma farta ceia.
        Povo lutou,com a garra de um vulto que precisa encobrir o Sol.Governo resistiu,com a tenacidade de uma formiga gladiando com um elefante.Apesar de forte,Governo caiu,pois era pequeno.Apesar de fraco,Povo venceu,pois era grande.
        Povo estava feliz,mas aí aconteceu.Um pouco do Povo virou Governo.Para ser Governo,Povo não podia ser mais Povo.E Governo que é Governo não muda,é sempre o mesmo.É ovo de gavião,que formoso e indefeso,com o tempo,dá origem ao gavião que mata.Era outro Governo de um mesmo País.Era um País,era um Povo,um Povo com um Governo.Governo mandava e desmandava.Governo tinha muito,Povo,quase nada.Povo obedecia,seguia,e quando não o fazia,morria.Todos eram tristes,só o Governo que não.Esse sim era feliz.O Povo ,na sua maioria,aceitava o fato de que todos estavam condenados para sempre.

     Marcelo Alves de Paula Lima                               
     - aluno da segunda série do ensino médio                                 
     - da Escola Cooperativa Gralha Azul no ano de 2005                               

-Fui ( e ainda sou,apesar de não ter alunos regulares) professora de Redação durante mais de 15 anos.Vi milhares de textos desabrocharem das mentes de jovens criadores e criativos.Textos que davam voz  a emoções,a sonhos,a rebeldias,a frustrações,a esperanças.De quando em vez gosto de relê-los pois assim os trago para perto ,esses adolescentes tão amados por mim.Eles me dão  forças para  continuar acreditando que , através das nossas ações,nosso planeta-mãe vai se curar.

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