domingo, 6 de dezembro de 2020

ESCOLHAS

 

                                         Escolhas

      lutar

      derrubando muros

      agir

      segurando as mãos de uma amiga

      consolar

      enxugando o desespero da impotência

      acreditar

      buscando sempre a melhor resposta

                                    o melhor caminho

                                     esperançar.


maria neusa

dezembro de 2020

                  



 Co-dependentes,onde estão?


Confesso:sou viciada!Há 40 anos um vício me corrompe e se tornou uma doença incurável.Hereditária?Sim.Contagiosa?Às vezes.Mas não mata!Sou uma devoradora de livros.Compro-os pelo título,pela capa,pela resenha lida numa revista,pelo cheiro.Leio-os na sua maioria.Na minha estante, o espaço para os não lidos só faz aumentar.Eu me deixo fascinar por dois,três ao mesmo tempo.Ah! E não sou possessiva nem ciumenta:gosto de emprestá-los.Mas está cada vez mais difícil achar pessoas contaminadas como eu.
         Sou personagem principal de inúmeros acontecimentos envolvendo livrarias.Fui a São Paulo me consultar,em meados de 1996, e aproveitei para conhecer a recém-inaugurada Mega Saraiva.Quando colocaram um carrinho de supermercado nas minhas mãos, enlouqueci:  fui colocando livros e mais livros.Não consegui sair do primeiro pavimento.Na fila do caixa descobri que não levara meu talão de cheques.O marido,gentil,me emprestou uma fortuna e ainda carregou todo o peso.
        Livraria Nobel em Uberlândia: recentemente fui conhecê-la ,acompanhando filho e nora e netinho:queriam comprar um presente.E escandalizei-os saindo de lá carregando inúmeros livros desconhecidos e por isso atraentes e desejados.
        Livraria Cultura, em São Paulo,há dois anos: Creusa,minha irmã e eu nos desviamos do pessoal da excursão e passamos uma manhã apreciando e comprando.Apaixonei-me pelos "pufs" à disposição dos leitores e sonhei em morar ali,entre aquelas infinitas fileiras.
        Comprei livros em Manchester,Londres,Escócia,Paris,Santiago do Chile,Buenos Aires,apesar de não dominar  nenhuma língua estrangeira( desculpem-me se não fui modesta..rsrs).
        Antigamente comprava-os através do reembolso postal,com boletos.Hoje me modernizei: a Internet é meu paraíso: Saraiva,Submarino,Siciliano,Cultura,estão todas lá, a minha disposição.
        Minha última aventura aconteceu no Shopping de Uberlândia: Alessandra,minha norinha,foi comprar meias no segundo pavimento e  eu fiquei com Yuri( meu netinho de dois anos)empurrando seu carrinho e apreciando as vitrines.De repente,  a Siciliano me atraiu como um imã.Coloquei folhetos nas mãos de Yuri e fui separando as novidades.Tudo na maior paz: a vovó comprando e o netinho maravilhado com os desenho dos folhetos( ele vai pegar minha doença,se Deus quiser..rsrs)

Quando meus filhos sairam de casa para estudar em Uberlândia e lá noivaram,se casaram  e fixaram residência,fiz uma estranha descoberta:mães,quando visistam os filhos estudantes,levam comida:bolos,pão de queijo,doces - uma farra gastronômica para engordarem os filhotes tão longe de casa.Levei um susto e foi aí que constatei minha terrível doença:durante os meses que antecediam minha visista,eu recortava artigos de jornais e revistas.Ah!Eles vão querer ler sobre isso,sobre aquilo!E eles nunca reclamaram.Acho que até hoje não perceberam que a mãe deles não é igual a maioria.Afinal,eu cuidava deles também,só que com outro tipo de alimento.
        Recentemente mudei de uma casa  para um apartamento.E minha enorme estante teve que ser reduzida.Doei metade dos livros para bibliotecas públicas,escolas,amigas.A outra metade trouxe comigo e organizei minha modesta biblioteca.E foi então que tive uma idéia:eu sentia pesar ao vê-los tão enfileirados,já lidos e guardados.Deviam se sentir rejeitados,esquecidos,coitados!
Moro num prédio de 14 andares.Pessoas de classe média: algumas crianças em idade escolar,rapazes,garotas,senhores e senhoras.Gentis: sempre me cumprimentam quando nos encontramos no elevador.
      Mãos à obra: em dois dias escrevi 13  cartinhas,me apresentando como a nova moradora do 101 e oferecendo meus livros para empréstimos( sem custo para os leitores,é claro).
      Silêncio mortal.Olhares desviados! Cruzes!!!!
      Se eu tivesse oferecido cigarros e bebidas,teria sido bem recebida? Talvez. Fiquei triste ao constatar que sou uma espécie em extinção: meu alimento predileto é cheio de letrinhas e me transporta para mundos desconhecidos e fascinantes.
      Nessa  encarnação não tenho mais tempo.Mas quem sabe na próxima? Vou fazer uma lista de opções: coleção de bolinhas de gude,de binóculos indiscretos,de cactos cheios de espinhos.Colecionarei indiferença,apatia,silêncio.
       A campanhia está tocando.Meu coração dá um salto esperançoso.Será?
 
 
                                               Maio de 2009
maria neusa

 

EPIGRAFE


  Nascida em São João del'Rei
                predestinada a viver
               com ousadia
               coragem
               e imersa
                em contradições
                - um ser humano-
                pronto pra ser
                e acontecer.

                                 Maria Neusa em janeiro de  2010

  Para minha amiga Merô,que me ensinou o que é uma epígrafe.Será que aprendi?

revisitando textos sempre atuais