segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Para todos os avós

  ( Imagem: www.portaldafamilia.org.)



Para todas as avós e todos os avôs 


A CASA AMARELA DA VOVÓ
(Quem quiser que invente, aumente e conte outra vez)

          JG foi apresentado à casa da vovó quando ainda era bem pequeno. Mas, aos três anos já sabia que aquela era a “casa amarela da vovó”, onde passava sempre parte de suas férias. Era uma casa cheia de surpresas. Aos seus olhinhos tão curiosos parecia mesmo mágica. De verdade, não era toda daquela cor, apesar de um amarelo forte predominar no muro, na lateral e na frente da casa. As grades e portões eram brancos e nas janelas havia também um azul marcante, mais para o roxo. Além do colorido das flores que embelezavam as floreiras na frente da casa.
          O quarto em que JG dormia com a sua mamãe era especial: além de muito grande, com espaço até para correr, possuía uma pintura bem extravagante em uma de suas paredes. JG ficava extasiado com tantas cores e figuras: um sol bem grande e todo risonho, barco, estrelas, balão, baleia, bandeira do Brasil, borboleta, gato, peixes, uma bruxa em sua vassoura, joaninhas... Ali parecia caber qualquer coisa da imaginação! O melhor de tudo era saber que havia sido pintado por sua mamãe quando criança...  Para completar, ainda havia a imensa gaivota de madeira que pairava imponente e silenciosa bem acima do berço em que ele dormia.
         No fundo da casa, tinha a varanda. Mas, que varanda! Toda fechada com janelas de vidro e com uma imensa mesa de madeira e dois bancos que mais pareciam grandes barcos. E, para alegrar ainda mais o lugar, várias coloridas araras de madeira dependuradas no teto. Mas, o melhor mesmo era o assento reservado para o JG.  Vovó tomou um quadrado inteiriço de madeira e pintou cada uma de suas seis faces de uma cor. Toda vez que fosse se sentar, JG escolhia a cor preferida. Era uma festa: uma hora, o azul; depois, o verde; não, queria o rosa; quem sabe, o vermelho, o amarelo, ou o alaranjado ? Foi uma forma criativa que vovó encontrou para fazer JG se interessar pelas refeições.
          O quintal ao lado da casa, então, era onde quase tudo era permitido. Às vezes, o almoço era no quiosque, cercado de plantas. No gramado, podia-se jogar bola, arremessar os aviõezinhos de papel feitos pelo vovô, ou construir uma fazenda imaginária com restos de madeira, alguns brinquedos e qualquer outra coisa que servisse para imitar animais. Além, é claro, de construir estradas na grama para a passagem dos tantos carrinhos. Era, também, o espaço compartilhado com a Flora, uma velha cadela mestiça e muito peluda, e com a Jennie, uma simpática e muito amistosa gatinha preta e branca. Horta, jabuticabeira, flores, passarinhos, ipê roxo, mexeriqueira, coqueiros; o quê mais era preciso? JG se divertia com tantas descobertas...
         Era mesmo de não se esquecer. De volta à sua casa em Natal, JG tinha sempre na memória a felicidade dos dias passados na “ casa amarela da vovó “.( Jovino Moura Filho)

_Recebi essa crônica de uma  amiga,com um recado junto: texto escrito por  seu amigo de infância.Fiquei tão emocionada que resolvi postá-lo aqui ,provocando todos os avós: escrevam para seu netos contando das experiências vividas juntos.Eu escrevo cartas para os meus dois netinhos desde que nasceram: tesouros valiosos hoje e no futuro .

Maria Neusa em setembro de 2011

3 comentários:

  1. Neusa,que bonito. É é muito triste as pessoas não contarem a sua histórias para os mais novos. Sei que as vezes não é possível e isso deixa um grande vazio. Eu não conheci meus avôs paterno, eles morreram meu pai era menino. Deles tenho uma foto antiga quase apagando da minha avó um documento amarelo de entrada no Brasil (1916), aos 24 anos era baixinha tinha 1,53m, era analfabeta e tinha uma cicatriz na testa e seu nome era Maria. Daria tudo para saber sua história, e saber pelo menos quando dela está em mim. Adorei o post.
    Beijos

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  2. Olá, minha amiga querida!!!! que saudades de voce!!!!! embora eu tenha ficado desaparecida por um mês, vc nem sentiu minha falta, não é??!!! mas tudo bem eu continuo gostando muito da senhora, senti muitas saudades de voce e dos seus pequenos, profundos e belos textos.

    Tive problemas de saúde na família, mas já está tudo bem.
    Um beijo com carinho e com muitas saudades!!!

    Ps. Voce se lembra de mim? bjs

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  3. Ai, esqueci de comentar este texto belíssimo. Quando comecei o meu blog, a minha intenção era deixar tudo o que eu pensava para os meus descendentes. Acredito nisto que a Cininha comentou. Seria muito bom ver algo deixado pelos nossos avós, o que eles pensavam, como agiam...seria um presente valoroso...

    bjs

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